Resenha - Se todas as rainhas estivessem em seus tronos


Um grupo de autoras independentes, que em suas maioria, escrevem fantasia, se reuniram para produzir uma antologia de contos com os mesmos temas: mulheres poderosas e a emancipação feminina. Tudo isso dentro do escopo da fantasia.

Se todas as rainhas estivessem em seus tronos é o resultado da coletividade de escritoras apaixonadas pela arte da literatura. Cada uma com seu estilo único colaborando para que algo maior e bonito acontecesse nas páginas de um livro.

Em parceria com Patrícia Albarello (@rabiscos_literarioss), que atua como revisora aqui do Portal, trazemos a vocês essa resenha acompanhada de uma breve entrevista com uma autoras da obra.


Nessa coletânea de recontos de fadas, podemos ver protagonistas femininas, guerreiras e inspiradoras com histórias de superação, amor e autoconhecimento. Histórias que revelam que as mulheres podem sim ser salvas por si mesmas; que o amor fraterno pode ser um processo de cura; que a subjugação não é uma regra a ser seguida; que o amor romântico não é um caminho para a cura de tudo, mas sim um complemento para a vida. STAREST é uma Antologia que evoca os Contos de Fadas, mas que dá um ar contemporâneo às histórias, incitando à reflexão sobre as temáticas abordadas: violência à mulher; subjugação; falta de amor-próprio; autoestima.

Analisando a grandiosidade dos temas abordados na referida Antologia, cabe aqui mencionar o quanto é necessário haver esse movimento de repensar os Contos de Fadas, os quais não foram criados, a priori, no intuito de entreter, mas sim, no de educar, no caráter moralizante. Portanto, aqui se faz necessário um panorama da história dos Contos de Fadas, que segue a seguir.

A ORIGEM DOS CONTOS DE FADAS E SEU OBJETIVO



A denominada Literatura Infantil teve como marco inicial as criações de Charles Perrault na França, no século XVII e também as produções literárias dos Irmãos Grimm no século XVIII na Alemanha. Nessa época havia a valorização da cultura popular. Dessa forma, os contos maravilhosos eram contados nas praças ou em encontros familiares, no intuito moralizante e pedagógico. Nesse sentido, por meio do lúdico, o objetivo principal consistia em doutrinar as crianças, as quais eram consideradas adultos em miniatura.

No caráter moralizante, as histórias eram contadas pelo povo, em linguagem acessível, sempre defendendo o maniqueísmo, ou seja, o bem vence o mal, com o final “felizes para sempre”, no sentido de docilizar o público infantil. Nesse sentido, de acordo com Coelho (1991), a literatura infantil surgiu na tentativa de descrever as origens da realidade histórica nacional, no que tange à representação do feminino, as histórias da época denotam a passividade da mulher, quase que sempre submissa ao poder masculino.

Corroborando, de acordo com Michelli (s/d, pág.5) “as personagens estruturam-se como figuras modelares do comportamento feminino desejado pela sociedade da época”. Assim, o feminino representa os estereótipos estabelecidos pela convenção social de uma época, podendo ser patriarcal, liberal, dentre outros parâmetros.

A dedicatória fala, por si só, a proposta da obra:

“A Todas aquelas que não se contentam com o mínimo. Acreditamos em você, no seu potencial e, acima de tudo, no seu espírito inquebrável”.

A obra encontra-se disponível na Amazon e no Kindle Unlimited.

Além dessa incrível resenha produzida pela Patrícia Albarello, também conseguimos realizar um tête-à-tête com a autora Tayana Alvez, autora do conto Princesa sem Reino, na antologia Se todas as rainhas estivessem em seus tronos.

Tayana Alvez é formada em Serviço Social e Gestão de Recursos Humanos, mas o seu coração é, inteiramente, da escrita. Em 2017 ela foi fazer intercâmbio na Irlanda, mas outra coisa que a conquistou foi o país. Atualmente ela mora na ilha esmeralda, é mestranda em Gestão, voltado para a literatura e escreve histórias incríveis que nos despertam todas as emoções possíveis.


Conte sobre sua trajetória no cenário literário.


Comecei participando de uma antologia organizada por um grupo do facebook chamado sociedade secreta dos escritores vivos. Foi uma antologia de thriller. Gostei da experiência da primeira publicação. Escrevo romance e fantasia, mas não tenho esse apego, digo sempre que escrevo histórias e ponto.

Passei por uma fase de bloqueio criativo muito forte. Aconteceu que após terminar minha primeira faculdade não conseguia mais ler, pois havia feito humanas e tinha lido muito de tudo no TCC. Por isso eu comecei a acompanhar blogs e perfis literários, como o da Paola Aleksandra e da Tatiana Feltrin. Foi aí que comecei a ler junto com as redes. Tendo voltado a ler, a vontade de contar histórias também voltou naturalmente. 

Em 2020 lancei uma duologia: O Irlandês, e o segundo livro O Casamento. 
Nessa série eu escrevo sobre protagonismo negro. Falo da solidão da mulher negra. Como viver numa sociedade estruturalmente racista pode manipular e definir como você se vê diante de um romance.

Em seguida foi a vez de Calafrio, um thriller/romance dark, onde conto sobre uma mocinha que sempre foi abusada financeiramente pelos pais, mas aí ela conhece alguém que ela acreditava ser uma brisa na calmaria, mas essa pessoa se mostra o pior inimigo q ela podia ter.

Em 2021, escrevi uma série de romances, todos com pessoas de mais de 20 anos. E essa escolha foi mais para a gente compreender que se pode ter relacionamentos com diferenças de idade, e isso pode ser saudável, não precisa ter uma infantilização da personagem feminina, nem romantização de poder e domínio por parte do personagem masculino. 

Em Maio de 2022 eu lancei O bebê (quase) inesperado, onde discuto casamento toxico e maternidade. 

Em Janeiro de 2022, tive a oportunidade de participar da revista Afroliterária com um conto chamado “escrito em vermelho”, na história, a minha personagem, Luana, decide escrever seu próximo thriller a partir da sugestão de um seguidor misterioso nas redes sociais. Mas, enquanto o processo de escrita vai consumindo a sanidade de Luana, os terrores que escreve passam a acontecer no mundo real.

Eu participei também de uma antologia de romance contemporâneo chamada Amor através do tempo. Aqui escrevi um romance jovem, momentos de transição entre a adolescência e a fase adulta. 

Sinto uma liberdade imensa em escrever para antologias, porque sei que posso produzir coisas diferentes. Foi assim que fui acabei participando de Se todas as Rainhas estivessem em seus tronos.

Como você as integrantes da antologia Se todas as rainhas estivessem em seus tronos?


Acontece que faço parte de um grupo de escritoras que gosto muito. Em nosso grupo havíamos tido essa ideia de antologia (que veio a ser Amor através do tempo), que se passasse em quatro lugares do mundo em quatro momentos da história. Como eu já conhecia as meninas da fantasia de outro grupo, perguntei o que elas achavam da ideia de produzirmos uma antologia do gênero, acabou que a galera abraçou, fizemos um lançamento bem grande, tivemos bastante leitura e avaliação no início. A gente está sempre juntas, uma sempre sabendo das dores da outra, e o nosso coletivo acabou fortalecendo nossa jornada como autoras, para muitas foi a primeira produção. Gostei bastante e foi meu primeiro trabalho com fantasia.

Qual é a premissa da antologia? Aproveitando, conte sobre sua participação.


Todos os contos trazem mulheres fortes como tema principal. Mas quando digo mulheres fortes não quero dizer apenas aquelas que vão para guerra e lutam batalhas incansáveis, e sim mulheres que resistem e se impõem, mulheres que não se deixam calar e que não desistem do que mais desejam. 

Em meu conto “Princesa sem reino” eu trago um reconto de A Cinderela. Basicamente, o pai dela é traído e lhe é roubado o trono, então ela vai atrás de sua vingança. Nessa história eu discuto rivalidade feminina presente nos contos de fadas, que na real não é só rivalidade feminina, é questão de antissemitismo, porque, por exemplo, a bruxa em contos de fadas sempre vai ter um aspecto bem judeu, nariz grande, etc, pois as histórias são originalizadas na Europa, então são propaganda antissemita que os contos de fadas disseminavam. 

A questão da Cinderela casar com o príncipe para mim era sem sentido,  porque ela não conhecia ele de verdade, não existia nem afeto. A minha vontade era trazer uma princesa que fizesse sentido.  Ela não é a mais forte, nem a mais guerreira de todos os tempo, ela apenas ama o reino dela e quer vingança. Mas vale lembrar que a escolha de retrabalhar um conto de fada que já exista foi minha, cada conto da antologia tem sua particularidade. Vale muito a pena. Leiam!

Acompanhe a autora no @Tayanaalvez


Entrevista por Filipo Brazilliano

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