Já fazia muito tempo que eu queria namorar Esperança, mas ela parecia não perceber. Sendo grandes amigos, acabei convidado pra conhecer a fazenda onde cresceu. Na frente da plantação dos pais dela, Esperança riu do meu grito quando um inseto enorme pousou nas minhas costas. Ela pegou com ternura a coisa verde que parecia a cria de um gafanhoto com uma mariposa e cobria completamente sua mão delicada.
— Que coisa horrenda é essa?
— É uma esperança. Não é linda?
Antes que eu pudesse responder, a coisinha feia começou a gritar desesperada.
— E esse barulho?
— Ah, deve ser por causa do primo dela. A esperança saiu voando, e Esperança apontou pra cima da plantação. Verde e voando em nossa direção com asas translúcidas e do tamanho de pás de helicóptero, dezenas de patas articuladas cheias de espinhos, antenas como chifres diabólicos, vinha uma criatura maior do que a minha casa. O som que saía daquela boca cheia de pinças era como os tiros de um canhão.
— Melhor a gente correr. — Esperança disse sem pressa. — Parece que o Desespero tá com fome.
Quem te escreve?
Gabriel Yared é um jovem escritor, leitor e resenhista, amante da ficção. Autor amapaense de terror, horror, fantasia e ficção científica, gêneros nos quais busca sempre explicitar suas vivências como LGBT e nortista. Editor da revista Égua Literária. Autor da fantasia sombria Sementes de Sangue.
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