Em Julho de 2023 foi lançada, pela editora Perene Editorial, a antologia de contos Cantiga dos Novos Bruxos e Outras Artes proibidas. Obra que está disponível na Amazon.
A coletânea reúne três contos fantásticos de autores independentes comprometidos a explorar possibilidades da magia dentro do gênero de ficção especulativa. Prometendo aos leitores uma rica experiência ao apresentarem personagens vivenciando extremos, explorando níveis de autoconhecimento e onda de saberes mágicos, enfrentando perigos iminentes, correndo contra o tempo e lutando pela própria vida, dentro e fora do espaço-tempo, em variadas épocas e dimensões.
A obra é protagonizada pelos autores M.P. Neves com o conto "Cauda Draconis", Mylena Araújo, autora de "A Mandigueira" e Mateus Cantele trazendo "O Algoz de Inti".
Sobre os contos
Em "Calda Draconis" de M.P. Neves: Quando um cataclisma abala as estruturas do mundo, o Geomante Godric passa a sentir uma perturbação nas linhas de poder da terra e decide investigar o pântano que parece o epicentro daquela loucura. Descobrindo novos pontos de energia e um padrão de rochas conhecido como Cauda Draconis, Godric é surpreendido por uma maga misteriosa, que lhe alerta sobre um terrível agouro.
Em “A Mandigueira”, de Mylena Araújo: Amaldiçoado, Pedro se encontra numa situação absurda quando percebe estar diante de uma necromante, que ele acreditava ser apenas uma das personagens de ficção de seu pai. Agora Pedro precisa relembrar como escapar de suas garras antes que ela cobre, novamente, uma dívida de sangue.
Em "O Algoz de Inti", de Mateus Cantele: Após rastrear um poderoso artefato mágico através das chamas, Savannah Rogers se embrenha numa perigosa aventura dentro de uma pirâmide em busca do artefato valioso que lhe renderá alguma recompensa. O que o saqueador de tumbas não esperava era topar com obstáculos além de seu poderio que poderiam custar sua própria vida.
Sobre o capista:
Cada um dos contos recebeu uma ilustração especial de Ariel Bertholdo, capista da antologia, cujo o capricho com que materializa suas ideias beira à magia. O artífice empregou sua perícia ilustrando a capa de Cantiga dos Novos Bruxos e Outras Artes Proibidas se baseando no conceito de histórias em retalhos, aproveitando que as narrativas da coletânea são costuradas por um mesmo tema.
Batemos um papo com Ariel sobre sua participação no projeto, que nos revelou detalhes sobre sua inspiração e processo criativo.
Link do artista aqui
Qual foi sua inspiração para criar a arte de capa da antologia?
Essa pergunta é um pouco complicada porque quando estava pensando no que representar na figura todas as minhas referências de bruxas passaram pela cabeça, por isso resolvi dar à criatura o clássico e simples chapéu de bruxa, quis deixar caricato para que cada pessoa veja sua própria referência nela.
Outra inspiração, para além da figura em si, foi a podridão bela da natureza. Sou obcecado pelo processo de vida/morte de tudo o que é orgânico e coloquei muito disso na nossa criatura. A criatura é "mofada" ao ponto do corpo se juntar ao trono, ela está morta, mas ao mesmo tempo está viva, é colorida e floresce mesmo no meio da podridão. Há beleza nisto. A ideia era transmitir um sentimento de imortalidade e 'ciclos' que a natureza me trazem.
De que forma você escolheu quais elementos destacar na ilustração?
"As histórias que florescem e morrem para sempre" foram meu foco. Quis destacar os panos sem vida e as flores saturadas na mesma proporção. Esses foram os elementos que escolhi e o contraste foi a forma que utilizei para transmitir a essência da temática da antologia.
A escolha da paleta de cores girou em torno da representação da vida/morte. Quis explorar a questão entre esses temas e as ideias presentes nos contos, por isso optei por uma paleta que expressasse esses contrastes. Além disso, o cabelo da criatura e as flores têm as mesmas cores, eu quis brincar com a conexão entre "ideias' e o "conhecimento".
Como você incorporou a temática da antologia na sua arte?
O título 'Cantiga dos Novos Bruxos' e a diferença entre os contos me inspiraram a brincar com o 'novo e velho', com a diversidade nas 'artes proibidas' e tudo sobre a ideia de um 'conhecimento perpétuo'. Nesse caso, o título e a temática foram muito importantes no meu processo criativo.
O que a alma cadavérica representa para você e como ela pode ser interpretada na arte de capa?
Pensei muito sobre isso, sabia? (risos) Já sentei com ela e perguntei "quem é você?" (risos). Eu quis tanto criar uma imagem sem representação e que ao mesmo tempo representasse tudo. Hoje vejo tudo e nada. Não vejo a criatura como alguém específico, para mim ela é a representação do conhecimento. Ela é atemporal e tece infinitamente contos, cantigas, feitiços e maldições (ou tecem nela? Não sei). Sobre ser cadavérica... Não acho isso um ponto, ela é igualzinha a gente (pelo menos a parte mais durável). Eu não quis que a aparência dela fosse assustadora ou algo do tipo. Basicamente, a criatura para mim é uma incógnita.
Se tiver, você pode compartilhar algum detalhe interesse ou curioso que os leitores podem não perceber à primeira vista?
Além do que está explícito no véu da figura, existe um detalhe que pode passar despercebido à primeira vista. As flores de fundo soltam pontos brancos que, apesar de parecerem pólen, foram feitos pensando em esporos. E nisso, já dá para perceber que sou apaixonado por fungos, mofos e afins, não é? (risos).
Os esporos são liberados no ar para continuar a linhagem e, muitas vezes fazem isso quando em situações extremas, podem permanecer imperceptíveis por muito tempo sendo difíceis de eliminar. Gosto dessa ideia de resiliência.
Como você acha que a sua ilustração contribui para a experiência geral do leitor da antologia?
Acredito que a atmosfera misteriosa da criatura na capa fará com que os leitores mergulhem nas histórias com ainda mais intensidade. Ao mesmo tempo, o tom mais despojado de alguns pontos a ilustração preparam o leitor para uma jornada envolvente e leve.
Se você pudesse dar um conselho para outros artistas que estão começando a trabalhar com ilustrações de capas de livros, qual seria?
Meu conselho seria que entendam para quem estão trabalhando e qual é o propósito da obra. É essencial compreender o tom do livro e o estilo que atrai o público-alvo. Além disso, é importante fazer aquilo que sabe fazer bem. Não se compare com outros artistas, passei mto tempo assim até começar a me encontrar. Acredito que isso é o básico pra qualquer trabalho de ilustração.
Onde é possível encontrar mais sobre você e seu trabalho?
Sou mais ativo no Instagram, onde compartilho meus projetos. Você pode me encontrar em @ariel_bertholdo. Além disso, meu portfólio está disponível no Behance, sob o nome Ariel_Bertholdo. Na bio do Instagram, também disponibilizo alguns links interessantes. Muito obrigado.
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Entrevista e Arte de vitrine por Filipo Brazilliano
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