Resenha: Acalanto, de Auryo Jhota

Em parceria com Licia Mayra (@liciamayra), o Portal Cataprisma traz a vocês a resenha de Acalanto, uma história de Auryo Jhota (@auryoj) acompanhado de uma breve entrevista concedida pelo autor.


JÁ OLHOU DEBAIXO DA SUA CAMA HOJE?


Acalanto, livro do piauiense Auryo Jotha, se desenvolve em terreno movediço, típico dos sonhos - ou melhor, dos pesadelos. Através de uma mescla de lendas e brincadeiras nordestinas, o autor delineia um drama familiar e psicológico. A narrativa cresce tal qual as labaredas de um incêndio e joga o leitor ora contra, ora a favor dos dois adultos, Lúcia e Jorge, outrora crianças ameaçadas pelo bicho papão e por medos maiores. Com direito a uma reviravolta que faz o leitor voltar ao início para pegar todas as pistas que deixou escapar, Acalanto é daqueles livros que, uma vez abertos, são impossíveis de largar.

Bicho papão é remédio pra menino ruim. Ao menor sinal de desobediência, é só chamar a criatura que se esconde debaixo da cama e devora criancinhas. Mas e quando a criança vira amiga do mal?

Numa casa socada abaixo do nível da rua na zona Sul de Teresina, uma menina faz uma amizade inusitada. As brincadeiras de esconde-esconde com Tutu tornam-se perigosas à medida que ele passa a brincar com os adultos, quer eles queiram ou não, trazendo à tona memórias e segredos há muito esquecidos debaixo dos móveis. Rapidamente, a pequena residência transforma-se num cenário de horror, onde nada é o que parece.


Uma observação: ao chegar nos agradecimentos, o autor dirá para você fechar o livro. Faça que nem menino ruim, desobedeça. Siga até depois dos créditos. Tem algo lhe esperando.

Quer conhecer o autor Auryo Jhota?

Auryo Jotha é escritor piauiense, venceu o Prêmio Odisseia de Literatura na categoria Narrativa curta de fantasia com Miolo de Boi – Farras Fantásticas (Corvus, 2021). Já participou de várias antologias e revistas literárias, além de ter histórias autopublicadas: Zoo e Acalanto.


Quando decidiu seguir o caminho da escrita?

Não lembro direito, parece que foi algo que sempre esteve aí me rondando, apesar de que nunca tiveram muitos livros em casa. Qualquer coisa eu jogo a culpa numa professora do fundamental que fez uma atividade em que cada estudante tirava três imagens recortadas de livros e revistas de dentro de uma caixa e tinha que montar um parágrafo contando uma história com os três elementos. Terminei com umas três páginas.

Quais dificuldades você encontrou e como as superou?

As maiores dificuldades que me deparei é conciliar a vida "civil" com a de escritor, infelizmente arte é difícil de dar dinheiro, a gente precisa de um emprego para bancar esse "hobby". Fora isso ainda tem a questão de divulgação, é complicado alcançar as pessoas. Agora como superei... cara, isso não tá superado, mas tô indo à base de teimosia e por conta dos coletivos literários que dão uma força pra gente.

Quais são os gêneros e temáticas que você trabalha em suas narrativas?

Meu foco é na ficção especulativa: fantasia, terror e ficção científica. Na maioria das vezes misturo, vários elementos desses gêneros e de seus subgêneros. Diria que trabalho bastante lendas locais, luto/perdas, coisas do cotidiano

Como foi a concepção de Acalanto?

Meu processo criativo é a partir de cenas. Não penso no cenário, nas personagens ou na trama primeiro. Meus contos surgem de cenas específicas e depois busco "desculpas" para amarrá-las em uma história maior. Acalanto veio de minha pesquisa sobre lendas, no caso, sobre bichos-papões. Me deparei com uma imagem de uma criatura levando uma cama nas costas e isso me deu uma ideia de cena, depois outras cenas vieram de coisas que li (livros de ficção mesmo), filmes de terror ou vídeos de meme.


Eu tinha umas três cenas grandes. Meu plano era escrever três contos separados. Então, veio o podcast Covil do Terror com a proposta de um spin-off em que eu narraria histórias minhas com efeitos sonoros e tudo mais. Como eu queria algo inédito acabei pegando todas essas cenas que tinha um elemento em comum: um bicho-papão, e assim surgiu o Acalanto.

Quando comecei a escrever, a pesquisa já tava feita. Foi mais tranquilo nesse quesito. Ela (a pesquisa) envolveu livro de folcloristas (abstraindo sempre o racismo que eles deixam escapar para as páginas dos livros deles), contos populares e relatos de pessoas que conheço que tiveram algum estranho acontecendo com elas e que não conseguem explicar direito o que foi, ah, ia esquecendo, e creepypastas também.


A escrita do livro foi um caos porque eu escrevia um capítulo toda semana, revisava, editava o máximo possível e já tinha que gravar o quanto antes para dar tempo de editar o episódio que sairia naquela mesma semana. Por muito tempo eu não sabia qual final escolheria, tinha uns 20 em mente, a reescrita da história foi crucial para que todo esse caos fizesse sentido no fim das contas, passei meses trabalhando só nessa história.

Digo sem pestanejar que é o meu trabalho mais bem acabado (até agora). Aprendi muito com a escrita dele, técnicas que vou levar para outras histórias.

Para quem você diria que escreve? Que tipo de publico se interessaria pelas histórias que produz?

Eu sei para quem não escrevo, não escrevo pra acadêmico metido a besta com o único português correto e puro deles, não escrevo pra galera da alta literatura pra quem escritor de fantasia nem é gente, não escrevo pra quem só quer saber da gourmetização do sofrimento alheio. 

Em relação ao Acalanto: quem gosta de filme de terror, imagino que vá gostar muito da história, eu brinco com clichês do gênero, e acabo indo para rumos que sempre quis ver no cinema, mas os roteiros dos filmes querem que as personagens sejam burras, aí complica. E pra quem não gosta tanto de histórias de terror por causa do gore, da violência visual exagerada, pode pegar o livro sem medo... quer dizer... ok, sem piadas. Pode ir sem medo, o gênero do horror não se prende só ao susto, há muito mais coisas por trás, há críticas, partes de humor, partes puxadas para o drama, o terror tem muitas coisas. 

O que mais os leitores podem esperar de seus próximos projetos e produções?

Tenho uma história de terror (creio que a maior que escrevi até agora) sobre licantropia, isolamento, amor, loucura (?). Essa eu queria muito que tivesse uma edição física, bora ver o que o futuro nos guarda.

Arte de vitrine e entrevista por Filipo Brazilliano

Resenha por Licia Mayra

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