Em parceria com o autor M. P. Neves (@mpneves_autor), o Portal Cataprisma traz a resenha de Lebre da Madrugada e Príncipe Partido, ambas obras compõem a duologia Senhores de Sombra e Prata, de Arthur Malvavisco (@AMalvavisco), tal como também aqui publicaremos uma breve entrevista concedida pelo autor.
|I Lebre da Madrugada – Arthur Malvavisco I|
A sinopse conta que é o encerramento da década. Todos esperam um desastre: em Solária, as décadas normalmente terminam em um Eclipse, um terrível evento mágico que pode destruir cidades. Na fortaleza de Rosseles, onde uma grande muralha marca a fronteira entre reinos civilizados e os ermos selvagens, Andras tem preocupações mais imediatas: ele é um médico e cientista vivendo em uma cidade controlada pela Vigília, a mesma organização religiosa que o excomungou por exumar cadáveres para seus estudos.
Como se não bastasse, ele ainda tem de guardar segredo sobre a canção da floresta, uma sinfonia que o chama para as sombras além das muralhas e ameaça roubar sua sanidade. Quando um cavaleiro ferido desaba à sua porta, Andras se vê na companhia de um homem estranho: Aeselir Hrád, um guerreiro de outro mundo, um fugitivo perigoso e de passado violento, mas que oferece ajuda ao médico no momento em que a Vigília ameaça sua vida. Feral e de temperamento explosivo, Aeselir parece fugir tanto de seus inimigos quanto de si mesmo.
Juntos, eles terão de sobreviver em ermos devastados por guerras e acidentes mágicos. Terão de lutar para escapar aos seus inimigos, mas também para compreender as diferenças entre si, seus papéis nos planos da Vigília e nas vidas um do outro.
A resenha á seguir foi escrita por M.P. Neves: Lebre da Madrugada, de Arthur Malvavisco, tem tudo que uma boa fantasia sombria precisa: um mundo insólito e misterioso, sociedades belicosas e autoritárias, religiões opressivas e magia selvagem e perigosa.
A escrita do autor é meticulosa e agradável. Seu vocabulário é amplo, sem ser prolixo demais. Por ser uma história que se passa em grande parte em ambientes selvagens, esse vocabulário contribui para a imersão do leitor ao referir-se corretamente à flora, fauna e elementos geográficos. Sinais de uma pesquisa muito bem-feita. A trama principal gira em torno de dois personagens: Andras e Aeselir. Eles são muito diferentes, quase antitéticos, mas são forçados a unir forças e ao longo da história aprendem a respeitar-se e admirar-se mutuamente. É uma estrutura narrativa que eu adoro ler (e curiosamente está presente tanto em romances românticos quanto em filmes policiais). Malvavisco executa essa trama com maestria! O sistema de magia é outro ponto forte, com custos e limitações muito interessantes, que eu desejo ver exploradas mais a fundo no volume seguinte. Recomendo a todos os fãs de fantasia, especialmente das sombrias.
|I Príncipe Partido – Arthur Malvavisco I|
A sinopse de Príncipe Partido é a seguinte: Após escapar por pouco à Vigília, Andras e Aeselir estão feridos e isolados às vésperas de um desastre mágico. Estariam também desarmados, não fosse por um detalhe: com o Umbral que corre nas veias de Andras após seu Despertar, eles se tornaram Andarilho e Feiticeiro, capazes de moldar o poder das sombras a seu favor.
Isso, porém, não torna a vida mais fácil. Sentimentos complicados afloram entre eles: desejo e vergonha, amor e culpa por crimes cometidos na década passada. Ainda caçados pela Vigília e ameaçados pelo Eclipse, médico solariano e guerreiro iluriano precisarão forjar alianças para sobreviver. Assombrados por inimigos antigos, terão de enfrentar também os esquemas de um nobre iluriano peçonhento e reatar laços com familiares perdidos h á muito tempo.
Com a aproximação do Eclipse e sob ameaça de guerra, segredos sobre uma doença que acometeu seus dois mundos serão revelados com o auxílio de uma menina-águia, e Andarilho e Príncipe-Feiticeiro terão de lutar por amor, para restaurar coisas quebradas e para descobrir seu lugar num mundo que os odeia.
A resenha á seguir é da autoria de Arthur tem uma prosa agradável, bonita, com vocabulário preciso que favorece a imersão. O conhecimento sobre biologia do autor ajuda a descrever plantas e animais de forma vívida, mostrando uma boa pesquisa por trás da obra.Se o primeiro volume, focado no protagonista Andras, já agradava, o segundo, focado em Aeselir, ex-senhor da guerra e responsável por inúmeros crimes brutais, tem ainda mais material de sombra e tragédia para explorar.
O romance entre os protagonistas é bem-trabalhado, mesmo enquanto eles lidam com questões delicadas, como o passado macabro de Aeselir, a necessidade de sobreviver em um mundo que rejeita ambos e os planos da Vigília, organização que, em nome de proteger o mundo de outros senhores da guerra como Aeselir, comete atrocidades ainda piores.
Também destaco o sistema de magia do livro, que é muito bem-trabalhado e funciona muito bem para avançar a narrativa. Duas pessoas são necessárias para empregar a magia do Umbral, um Andarilho e um Feiticeiro, cada qual com seu papel. Essa limitação gera momentos interessantes de conflito e é muito bem explorada no worldbuilding.
Tête-à-tête com o autor Arthur Malvavisco
Arthur Malvavisco, 25 anos, é natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Filho de mãe escritora, sua fascinação pela literatura começou ainda na infância, e a juventude selou sua relação íntima com o gênero da fantasia, que por muito tempo foi seu principal escapismo como adolescente trans em uma época e local em que questões de gênero não eram muito debatidas. Acadêmico de biologia, tendo estagiado com répteis e educação ambiental, carrega um pouco dessa bagagem para suas obras, ao explorar a relação de medo e fascinação do mundo humano pelo selvagem. Embora escreva desde os dez anos, só publicou seu primeiro livro em 2020. Autor da duologia Senhores de Sombra e Prata, composta pelos volumes Lebre da Madrugada e Príncipe Partido, Malvavisco escreve alta fantasia sombria com protagonismo LGBTQIAP+. Seus livros, antes publicados de forma independente na Amazon, em 2, atualmente recebem o selo da Editora Corvus.
1) Como foi sua experiência publicando independente em 2020 até ser chancelado pela Corvus?
Eu meio que entrei na publicação independente na cara e na coragem, só com o que eu aprendi observando outros colegas que fizeram o mesmo caminho na época. Acho que o que me ajudou bastante foi que Lebre da Madrugada é um livro de nicho, e é um nicho extremamente receptivo e animado justamente por ter sido ignorado por bastante tempo pelas editoras tradicionais: o nicho de leitores de fantasia LGBTQ+. Foram eles que carregaram a campanha nas costas e me ajudaram, me ensinando muito sobre divulgação.
2) Como foi o processo de escrita e resultado da duologia Senhores de Sombra e Prata?
A concepção foi bastante pessoal, porque a duologia explora questões muito íntimas para mim e relevantes na época em que eu escrevi: dicotomias de masculinidades, relações com o mundo natural e comigo mesmo, como escritor de romance. A pesquisa foi constante durante todo o desenvolvimento do livro, porque o Andras é um personagem que lida com bastante conhecimento de nicho - e que lida, por exemplo, com coisas além da minha alçada e experiência. Eu tenho fobia de cavalo e fiz um protagonista que convive muito com cavalos, por exemplo, e tive que ler muito sobre comportamentos e pelagens equinas para representar isso adequadamente. Também li muitos artigos sobre propriedades curativas de plantas - e às vezes a pesquisa feita para um capítulo poderia me ajudar a resolver um problema que pareceria no futuro da trama. De forma geral, foi muito divertido desenvolver o cenário desse jeito - com um artigo de cada vez - e como Lebre e Príncipe foram meus primeiros livros, isso me ensinou muito sobre a construção de mundo.
3) Para quem você diria que escreve? Que tipo de público se interessa pelas histórias que conta?
De forma geral, eu escrevo para qualquer um que queira ler fantasia adulta. Mas, sendo mais específico, eu escrevo histórias centradas na vida de pessoas marginalizadas pelo sistema, e acredito que leitores que tenham se sentido às margens - por qualquer que seja o motivo - vão se encontrar mais facilmente nas minhas histórias. É o velho "apelo do underdog", mas um pouco mais diversificado, porque eu acho que a era Stephen King de fazer underdogs cujo maior problema é sofrer bullying passou.
4) Quanto das suas vivências, experiências e observações se fazem presente em suas narrativas?
Acho que sempre tem um pouco de mim permeando o texto. A gente tenta se distanciar para que as histórias criam suas próprias pernas, mas a verdade é que a realidade e as perspectivas do autor são como uma paleta de cores a partir das quais ele pinta a narrativa. Por causa disso, quase tudo o que eu escrevo eu consideraria literatura queer, mesmo quando eu só quero falar sobre dragões e espadas.
5) Quais foram as aprendizagens que teve durante o desenvolvimento de sua escrita e que desafios sente que superou?
Acho que cada livro é um aprendizado específico para o livro que você está escrevendo. Lebre da Madrugada, como o meu primeiro livro, me ensinou muito sobre estrutura narrativa e arquétipos de personagens. Mas, depois, eu ainda tive que aprender muito sobre ritmo narrativo e exposição. De forma geral, sinto que os livros que escrevi depois têm uma estrutura mais fechada, mas Lebre (e Príncipe) continua sendo minha história mais emocional
6) Por fim, o que seus leitores podem esperar do futuro com relação aos seus projetos e produções?
Agora que estou agenciado, as publicações podem demorar um pouco mais, porque vão passar por mais processos editoriais, mas tem um livro sobre cavaleiros de dragão num mundo pós-industrial, que é um cenário meio distópico de fantasia científica, e um romance com vampiros numa fantasia pós apocalíptica, com uma ambientação bem puxada para Mato Grosso do Sul. Estou muito ansioso para a publicação dos dois
Arte de vitrine e entrevista por Filipo Brazilliano
Resenha por M.P. Neves
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